Chuva na roça é criadeira

"Josefina sai cá fora e vem vê/ Olha os forro ramiado vai chuvê/ Vai trimina riduzi toda criação/ Das bandas de lá do ri gavião/ Chiquera pra cá já roncô o truvão/ ... "  Da canção 'Arrumação', de Elomar. 

Olha a chuva arrodiando no horizonte, por trás de negras nuvens e raios de trovão. 

A criação recolhida, amedrontada, busca refúgio no poleiro mais próximo. 

Sem se preocupar com o tempo, um persistente pica-pau insiste em recolher comida no tronco do cajueiro, enquanto o vento espalha as folhas secas pelo quintal.

O velho Benício me contou, que chuva boa tem de vir mansinha, a primeira, que é para não encharcar a terra e fazer morrer a plantação. 

Depois pode vir água pesada, terreno umedecido, que toda a vida que há no chão vai florescer.

Mesmo com o tempo virando, o calor não passa. 

Um bafo quente esconde a brisa que deverá chegar mais tarde quando cair a noite.

E eu aqui, me pondo a olhar o céu enegrecido, na busca da direção das nuvens, que ao passarem rápido sobre a minha cabeça, não deixam correr um pingo d'agua sobre meu corpo suado. 

Faz tempo que o tempo fechou e a chuva não cai.

No pasto, juntos da manada, novilhas e bezerros evitam ficar debaixo das árvores, pois quando caem os raios lampejam fogo para cima deles.

Aos poucos, o ar vai ficando fresco, deixando para trás o calorão que secou o pasto, e fez nascer a mais bendita safra de cajus, mangas e acerolas, enquanto cajazeiros, pés de caqui, de tamarindo e de seriguela, com medo de errar no sabor esperam mais um pouco para dar seus frutos. 

E assim passa o tempo, e com ele a esperança de chuva que, lentamente caminhando na direção do mar, vai abrindo espaço para o inclemente sol.

Num sinal que a chuva não vem mais, a galinhola ecoa seu grunhido, o galo lança seu cocoricó, e o canto do bem-te-vi soa junto com o de outros pássaros, aproveitando o entardecer. 

Só me resta exclamar como o caboclo, que em sua fé nas forças da natureza sempre diz "se Deus quis assim, assim será! ".

BIRA DE OLIVEIRA